Associação dos Produtores da Agricultura Urbana e Periurbana de Campinas e Região – Cio da Terra
IMPACTOS DE UM PROGRAMA
DE AGRICULTURA URBANA DE BASES AGROECOLÓGICAS
Orlando Batista
dos Santos*
Horta Comunitária do Parque Itajaí IV. Foto OBS |
INCLUSÃO SOCIAL E
CIDADANIA
Sociabilidade
entre os participantes: o primeiro efeito positivo de um
projeto comunitário é a sociabilidade entre os participantes. De início formado
por um núcleo formado por familiares, amigos e conhecidos reunidos em função de
uma liderança, num segundo momento ganha adesão de outras pessoas com a
reprodução do fator agregador a partir da entrada de novos participantes,
resultando na expansão do círculo de amigos reunidos em torno do projeto. Um
projeto de agricultura urbana/horta comunitária não foge à regra.
Interação
social na comunidade: a produção de hortaliças nas
proximidades de uma área residencial chama a atenção de toda a vizinhança, que
é naturalmente sua clientela principal. A partir de então, a relação de
clientela se transforma em relação de amizade, contribuindo para a integração e
reforço dos laços sociais, tendo como ponto de encontro o espaço da produção.
Interação
com a gestão pública e atores sociais: a gestão de projetos
envolvendo a comunidade implica necessariamente em diálogo permanente entre
gestores públicos de vários níveis e os atores-sujeitos desses projetos, uma
vez que a gestão dos projetos torna-se necessariamente compartilhada entre
ambos, resultando na aproximação dos cidadãos comuns com os gestores públicos
em função de uma agenda permanente para discutirem políticas, programas ou
mesmo aspectos dos projetos em pauta. Por extensão, todos os atores envolvidos
são estimulados a desenvolverem uma parceria solidária através de encontros,
palestras, seminários, capacitação e toda uma gama de atividades afins que
contribuem para ampliação dos horizontes de participação social e o exercício
da cidadania.
EDUCAÇÃO E
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Intervenção
construtiva no meio ambiente: uma das faces mais
visíveis de projetos como agricultura urbana é a sustentabilidade ambiental. A
intervenção construtiva dos participantes nos espaços ocupados tem como
primeiro benefício a prevenção de ameaças ao meio ambiente, inibindo a
deposição de lixo e entulhos em terrenos baldios, áreas livres e mesmo de
preservação ambiental, prática muito frequente em todos os bairros.
Consciência
ambiental: a atuação em projetos de agricultura de
bases agroecológicas promove a consciência ambiental dos participantes, uma vez
que a relação harmoniosa com o meio ambiente é o principal requisito para o
reconhecimento de um produto efetivamente saudável e natural. Isto posto, cada
participante torna-se sujeito ativo e consciente defensor da integridade do
meio ambiente e de práticas ecologicamente corretas, também por reconhecer sua
importância em relação à saúde da coletividade.
EDUCACIONAL
Interação
com a comunidade escolar: a crescente urbanização promove o
afastamento das pessoas do contato com a terra. Saber de onde vem os alimentos,
como são cultivados e conhecer as pessoas envolvidas no cultivo é parte
essencial da educação básica escolar. Visitas e passeios de escolares a uma
unidade de cultivo de alimentos são tão importantes quanto às realizadas a um
zoológico ou parque de diversão. O interesse e mesmo o encanto das crianças no
contato com as plantas que lhes servirão de alimentos ficam muito evidente por
ocasião dessas visitas educativas.
Complementação
da grade curricular: a proximidade de uma área de cultivo de
alimentos de uma unidade de ensino permite ajustar projetos pedagógicos e a
grade curricular da escola para o ensino e pesquisa de campo contemplando
diversas disciplinas. Os professores descobrirão nesses espaços inúmeras
possibilidades de aplicação do conhecimento a exemplo das Ciências Biológicas
focadas em meio ambiente e ecologia.
ECONÔMICO
Renda
complementar e empregabilidade: tradicionalmente os
programas de hortas comunitárias são concebidos para proporcionar renda
complementar às famílias envolvidas, dada a possibilidade da venda do excedente
da produção. Um programa de agricultura urbana permite o planejamento de
cultivos de espécies alimentares destinadas a mercados específicos,
possibilitando ao agricultor a opção de empregabilidade e obtenção de renda
suficiente para atender as demandas do orçamento doméstico.
SAÚDE
Segurança
alimentar: os impactos positivos na saúde dos
horticultores são inquestionáveis. Consumir alimentos de alto valor nutricional isentos de
agroquímicos os colocam em posição privilegiada do ponto de vista da segurança
alimentar e nutricional. Por consequência, essa prática alimentar acaba se tornando extensiva a toda a família,
induzindo a um processo natural de reeducação alimentar e nutricional. Somado a
isso, as comunidades do entorno desses projetos acabam sendo beneficiadas com o
acesso a esses produtos que lhes são oferecidos a preços justos, e passam a
consumi-los de forma mais regular. Outra consequência positiva do fácil acesso da
comunidade a um projeto de horticultura é a disponibilidade de sementes e mudas,
induzindo naturalmente a disseminação de hortas caseiras.
Terapia
ocupacional: a terapia ocupacional é um processo
implícito do contexto da agricultura urbana, especialmente em projetos de configuração
comunitária. Lidar com a terra, com as plantas, interagir com os demais atores
do projeto, a troca de experiências e saberes, fazer planos e enfim, sonhar,
são aspectos de relevância na qualidade de vida, já que promove a restauração e
elevação da autoestima, da saúde física e mental dos envolvidos com a
consequente redução da demanda por atendimento médico e gastos com medicamentos.
A agricultura urbana de
bases agroecológicas torna-se indispensável para o desenvolvimento de cidades
sustentáveis. A sociedade como um todo só tem a ganhar com a implementação de
projetos dessa natureza. Porém, o papel dos gestores públicos é fundamental para
a institucionalização do programa, na medida em que facilita o debate sobre o
tema, estabelece marco legal adequado e proporciona infraestrutura funcional
para a sustentabilidade do programa.
* Orlando Batista dos Santos é Nutricionista e membro da diretoria da Associação dos Produtores da Agricultura Urbana e Periurbana de Campinas e Região - Cio da Terra.
* Orlando Batista dos Santos é Nutricionista e membro da diretoria da Associação dos Produtores da Agricultura Urbana e Periurbana de Campinas e Região - Cio da Terra.
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A COMERCIALIZAÇÃO DOS
PRODUTOS DA AGRICULTURA URBANA
A comercialização ou escoamento
dos produtos da agricultura urbana/hortas comunitárias deverá obedecer a uma
lógica diferenciada, sendo a venda direta ao consumidor a mais indicada,
seguido do fornecimento para programas oficiais de alimentação, a exemplo da
Merenda Escolar. Quanto ao fornecimento para clientes em geral (hotéis, restaurantes,
cozinhas industriais, mercados e varejões) é importante que esse tipo de
operação se caracterize como clientes-parceiros, ou seja; instituições que declaradamente
apoiem esse tipo de programa, cuja contribuição é o compromisso na aquisição de
parte da produção a preços justos.
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