sábado, 22 de junho de 2013

IMPACTOS DE UM PROGRAMA DE AGRICULTURA URBANA DE BASES AGROECOLÓGICAS

Associação dos Produtores da Agricultura Urbana e Periurbana de Campinas e Região – Cio da Terra



IMPACTOS DE UM PROGRAMA DE AGRICULTURA URBANA DE BASES AGROECOLÓGICAS
Orlando Batista dos Santos*


Horta Comunitária do Parque Itajaí IV. Foto OBS


INCLUSÃO SOCIAL E CIDADANIA
Sociabilidade entre os participantes: o primeiro efeito positivo de um projeto comunitário é a sociabilidade entre os participantes. De início formado por um núcleo formado por familiares, amigos e conhecidos reunidos em função de uma liderança, num segundo momento ganha adesão de outras pessoas com a reprodução do fator agregador a partir da entrada de novos participantes, resultando na expansão do círculo de amigos reunidos em torno do projeto. Um projeto de agricultura urbana/horta comunitária não foge à regra.
Interação social na comunidade: a produção de hortaliças nas proximidades de uma área residencial chama a atenção de toda a vizinhança, que é naturalmente sua clientela principal. A partir de então, a relação de clientela se transforma em relação de amizade, contribuindo para a integração e reforço dos laços sociais, tendo como ponto de encontro o espaço da produção.
Interação com a gestão pública e atores sociais: a gestão de projetos envolvendo a comunidade implica necessariamente em diálogo permanente entre gestores públicos de vários níveis e os atores-sujeitos desses projetos, uma vez que a gestão dos projetos torna-se necessariamente compartilhada entre ambos, resultando na aproximação dos cidadãos comuns com os gestores públicos em função de uma agenda permanente para discutirem políticas, programas ou mesmo aspectos dos projetos em pauta. Por extensão, todos os atores envolvidos são estimulados a desenvolverem uma parceria solidária através de encontros, palestras, seminários, capacitação e toda uma gama de atividades afins que contribuem para ampliação dos horizontes de participação social e o exercício da cidadania.

EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Intervenção construtiva no meio ambiente: uma das faces mais visíveis de projetos como agricultura urbana é a sustentabilidade ambiental. A intervenção construtiva dos participantes nos espaços ocupados tem como primeiro benefício a prevenção de ameaças ao meio ambiente, inibindo a deposição de lixo e entulhos em terrenos baldios, áreas livres e mesmo de preservação ambiental, prática muito frequente em todos os bairros.
Consciência ambiental: a atuação em projetos de agricultura de bases agroecológicas promove a consciência ambiental dos participantes, uma vez que a relação harmoniosa com o meio ambiente é o principal requisito para o reconhecimento de um produto efetivamente saudável e natural. Isto posto, cada participante torna-se sujeito ativo e consciente defensor da integridade do meio ambiente e de práticas ecologicamente corretas, também por reconhecer sua importância em relação à saúde da coletividade.

EDUCACIONAL
Interação com a comunidade escolar: a crescente urbanização promove o afastamento das pessoas do contato com a terra. Saber de onde vem os alimentos, como são cultivados e conhecer as pessoas envolvidas no cultivo é parte essencial da educação básica escolar. Visitas e passeios de escolares a uma unidade de cultivo de alimentos são tão importantes quanto às realizadas a um zoológico ou parque de diversão. O interesse e mesmo o encanto das crianças no contato com as plantas que lhes servirão de alimentos ficam muito evidente por ocasião dessas visitas educativas.
Complementação da grade curricular: a proximidade de uma área de cultivo de alimentos de uma unidade de ensino permite ajustar projetos pedagógicos e a grade curricular da escola para o ensino e pesquisa de campo contemplando diversas disciplinas. Os professores descobrirão nesses espaços inúmeras possibilidades de aplicação do conhecimento a exemplo das Ciências Biológicas focadas em meio ambiente e ecologia.

ECONÔMICO
Renda complementar e empregabilidade: tradicionalmente os programas de hortas comunitárias são concebidos para proporcionar renda complementar às famílias envolvidas, dada a possibilidade da venda do excedente da produção. Um programa de agricultura urbana permite o planejamento de cultivos de espécies alimentares destinadas a mercados específicos, possibilitando ao agricultor a opção de empregabilidade e obtenção de renda suficiente para atender as demandas do orçamento doméstico.

SAÚDE
Segurança alimentar: os impactos positivos na saúde dos horticultores são inquestionáveis. Consumir  alimentos de alto valor nutricional isentos de agroquímicos os colocam em posição privilegiada do ponto de vista da segurança alimentar e nutricional. Por consequência, essa prática alimentar  acaba se tornando extensiva a toda a família, induzindo a um processo natural de reeducação alimentar e nutricional. Somado a isso, as comunidades do entorno desses projetos acabam sendo beneficiadas com o acesso a esses produtos que lhes são oferecidos a preços justos, e passam a consumi-los de forma mais regular. Outra consequência positiva do fácil acesso da comunidade a um projeto de horticultura é a disponibilidade de sementes e mudas, induzindo naturalmente a disseminação de hortas caseiras.
Terapia ocupacional: a terapia ocupacional é um processo implícito do contexto da agricultura urbana, especialmente em projetos de configuração comunitária. Lidar com a terra, com as plantas, interagir com os demais atores do projeto, a troca de experiências e saberes, fazer planos e enfim, sonhar, são aspectos de relevância na qualidade de vida, já que promove a restauração e elevação da autoestima, da saúde física e mental dos envolvidos com a consequente redução da demanda por atendimento médico e gastos com medicamentos.


A agricultura urbana de bases agroecológicas torna-se indispensável para o desenvolvimento de cidades sustentáveis. A sociedade como um todo só tem a ganhar com a implementação de projetos dessa natureza. Porém, o papel dos gestores públicos é fundamental para a institucionalização do programa, na medida em que facilita o debate sobre o tema, estabelece marco legal adequado e proporciona infraestrutura funcional para a sustentabilidade do programa.


* Orlando Batista dos Santos é Nutricionista e membro da diretoria da Associação dos Produtores da Agricultura Urbana e Periurbana de Campinas e Região - Cio da Terra.




***

A COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DA AGRICULTURA URBANA

A comercialização ou escoamento dos produtos da agricultura urbana/hortas comunitárias deverá obedecer a uma lógica diferenciada, sendo a venda direta ao consumidor a mais indicada, seguido do fornecimento para programas oficiais de alimentação, a exemplo da Merenda Escolar. Quanto ao fornecimento para clientes em geral (hotéis, restaurantes, cozinhas industriais, mercados e varejões) é importante que esse tipo de operação se caracterize como clientes-parceiros, ou seja; instituições que declaradamente apoiem esse tipo de programa, cuja contribuição é o compromisso na aquisição de parte da produção a preços justos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário